Reunião pública com a comunidade da Vila dos Remédios, em Floriano, foi agendada para o dia 26, às 19 horas
O rompimento da barragem de rejeitos de minérios em Brumadinho (MG) ocorrido no dia 25 de janeiro passado tem suscitado na sociedade um caloroso debate sobre a situação e as condições de armazenamento dos resíduos produzidos pelas mineradoras de todo o Brasil. No Sul Fluminense, a preocupação fica por conta da barragem da Cimento Tupi S.A., que embora esteja situada no município de Quatis, no caso de um eventual desastre poderia atingir cidades situadas abaixo da empresa, como Barra Mansa.
Para buscar esclarecimentos sobre a barragem e seu grau de risco, o secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Barra Mansa, Carlos Roberto de Carvalho, o Beleza, acompanhado da equipe técnica do órgão, do coordenador da Defesa Civil, Sérgio Mendes, do secretário de Governo, Vinícius Ramos, do presidente do Conselho Municipal de Meio Ambiente, Vinícius de Azevedo e da integrante da Comissão Ambiental Sul, Henia Vasconcelos, se reuniu com o gerente Industrial e coordenador do Plano de Ação de Emergência para Barragens da empresa, Gil Augusto de Carvalho, e o geólogo geotécnico, Felipe Lemos. O encontro ocorreu na manhã desta quarta-feira, dia 13, na sede da mineradora,
Na reunião, o secretário de Meio Ambiente, Carlos Roberto de Carvalho, pediu o agendamento de uma reunião pública envolvendo a comunidade da Vila dos Remédios, no distrito de Floriano. A finalidade é esclarecer as dúvidas existentes em torno da operação da mineradora. A solicitação foi prontamente atendida e agendada para o próximo dia 26, às 19 horas, em local a ser definido.
Logo no inicio do encontro, o gerente industrial da empresa, Gil Augusto, tranquilizou a equipe da prefeitura, explicando minuciosamente as especificidades da unidade. Ele enfatizou que os conceitos sobre as barragens estão sendo revisados seguindo as determinações da portaria 70.389/2017, do Departamento Nacional de Produção Mineral, que criou o Cadastro Nacional de Barragens de Mineração, o Sistema Integrado de Gestão em Segurança de Barragens de Mineração e estabeleceu a periodicidade de execução ou atualização, a qualificação dos responsáveis técnicos, o conteúdo mínimo e o nível de detalhamento do Plano de Segurança da Barragem, das Inspeções de Segurança Regular e Especial, da Revisão Periódica de Segurança de Barragem e do Plano de Ação de Emergência para Barragens de Mineração.
A barragem da Cimento Tupi, segundo Gil Augusto, é classificada junto ao DNPM como de baixo risco e alto dano potencial associado. “A barragem da mineradora usa a tecnologia de alteamento a montante para o armazenamento de argila. Essa técnica permite que o dique inicial seja ampliado para cima quando a barragem fica cheia, utilizando o próprio rejeito como fundação da barreira de contenção. A unidade não fez nenhum alteamento, no entanto, o projeto inicial definia a possibilidade de um alteamento por linha de centro”, afirmou Gil Augusto.
O gerente ainda ressaltou que o Plano de Ação de Emergência foi concluído em agosto de 2018 e está em fase final de implantação. Toda a área da mineradora é monitorada por câmeras de segurança. No prazo de 60 dias a empresa vai instalar as sirenes de alerta para desastres. Também está sendo organizado um treinamento para cerca de mil moradores da Vila dos Remédios, com foco no auto salvamento, rotas de fuga e pontos de encontro centralizados no Ginásio de Esporte Gustavo Pereira, no bairro de Fátima, em Porto Real; no campo de futebol e praça de Nossa Senhora dos Remédios e na portaria da extinta empresa Cilbrás, às margens da Via Dutra.
A planta da empresa foi adquirida pela Cimento Tupi S.A. em 2015. A unidade está com suas atividades paralisadas devido à cota da barragem que já atingiu o limite projetado. Existe um pedido junto à Agência Nacional de Mineração para o retorno comercial da empresa, com fornecimento da argila para a indústria de vidros, argamassa e construção civil, o que aliviaria o volume de resíduos contidos na barragem.
Geólogo explica dados técnicos da barragem da Cimento Tupi
O geólogo geotécnico, Felipe Lemos, responsável pela elaboração do Plano de Ação de Emergência da Cimento Tupi S.A, em Quatis, disse que as barragens com alteamento a montante podem ter pressões hidrostáticas significativas em sua base, o que pode provocar a perda de coesão do material, levando a sua liquefação.
- O falhamento é causado pela passagem de água sobre a crista da barragem. Essa condição pode ocorrer por ondas formadas no interior da barragem ou por precipitações superiores às especificadas no projeto. Como proteção ao galmamento, é considerado uma borda livre na face interna da barragem de 2 metros. Já os vertedouros estão dimensionados para absorver chuvas com tempo de retorno de mil anos. A passagem de água sobre o barramento provoca a erosão da sua crista e talude de jusante, podendo levar a ruptura. Neste caso não há ruptura global. O sistema de drenagem da barragem de Quatis está superdimensionado, e com suas dimensões conforme especificado em projeto. Os piezômetros controlam o nível da água de percolação no corpo da barragem, não no rejeito – enumerou Felipe Lemos, traçando um comparativo entre as barragens da Cimento Tupi, Mariana e Brumadinho.
ALTURA DA BARRAGEM
Cimento Tupi 19 metros
Brumadinho 86 metros
Mariana 150 metros
VOLUME DE ARMAZENAMENTO
Cimento Tupi 204 mil/m³
Brumadinho 11,7 milhões/m³
Mariana 50 milhões/m³
NÚMERO DE ALTEAMENTO
Cimento Tupi Zero
Brumadinho 10
Mariana Não foi divulgado
REUNIÃO POSITIVA – O Secretário de Meio Ambiente, Carlos Roberto de Carvalho, ressaltou a oportunidade de conhecer detalhadamente o Plano de Ação Emergencial da empresa, que já foi protocolado na prefeitura. “Temos uma grande preocupação com a preservação da vida humana e do meio ambiente como um todo. Daí a necessidade desse encontro. Temos a função fiscalizadora e não podemos ser omissos”.
Para o coordenador da Defesa Civil, Sérgio Mendes, o encontro foi proveitoso e esclarecedor. “Neste momento em que a população está preocupada com os desastres de Brumadinho e Mariana é de extrema importância uma satisfação sobre as operações da empresa e as condições da barragem à sociedade. A Defesa Civil vai acompanhar a evolução do processo com total isenção, intervindo sempre que necessário nos procedimento de prevenção e proteção”, concluiu.
Fotos: Chico de Assis