Para Aristóteles, a amizade é uma forma de amor especial, diferente do Eros platônico

O meu primeiro contato com o amor foi pelo modo Eros, de Platão, você ama o que deseja e deseja o que não tem. Amor para Platão é desejo e quando o desejo acaba o Eros já era. Nesse amor há uma eterna busca frustrada, pois o que você tem já não te satisfaz não te interessa mais e você deseja outra coisa: algo novo, não é trocar de parceiro, necessariamente, é tentar vivenciar novas situações na relação para se sentir preenchida. Alimentar esse tipo de amor é difícil, pois precisa de constante renovação, é bem parecido com a indústria capitalista. É um amor que dá mais insatisfação do que felicidade.

E o que é a felicidade…

Pergunta que atravessa os séculos, não existe fórmula mágica, coach, nem guru, que possa determinar o que é a sua felicidade e como você deve buscá-la, nem a própria filosofia tem um guia pronto para lhe oferecer. Porque cada indivíduo é único, diferente. A etimologia da palavra “indivíduo” vem do latim “individuus”, e significa indivisível, que não pode ser dividido. Ou seja, não tem como transferir o significado de felicidade para todas as pessoas e a tal fórmula de felicidade não te servirá para o resto da vida, porque o que te faz feliz hoje, talvez amanhã já não o faça mais. Amanhã tu és outro, acordará revigorado com novas células, com um novo pensamento, uma nova busca. A cada nascer do sol é uma oportunidade que tem para pôr em prática sua nova versão do momento.

Aproveito para apresentar-lhe o filósofo Heráclito de Éfeso que viveu antes da era cristã e disse “nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio, pois na segunda vez o rio já não é o mesmo, nem tão pouco o homem”.

Mas vamos voltar ao amor, tema principal, desta crônica filosófica. Há um amor, Philia, que ganhou esta definição através de Aristóteles, esse amor pode te dar grandes alegrias, pois te mostra que é possível amar aquilo que você já tem. O amor marcado pela presença, pelas pessoas que já estão ao seu lado, pela vida que é sua e não há do vizinho. É o amor que tem a interpretação de uma amizade sincera, agradável, das relações que te fazem bem, não se limita apenas ao desejo, a meu ver há desejo, mas, sobretudo alegria, energia, ganho de potência, que te impulsiona a viver sutilmente com o que é seu. E detalhe: Philia é reciprocidade, convivência harmoniosa, virtude.

Aristóteles trata da amizade, desse amor, como algo indispensável à vida, como se fosse impossível ser feliz sozinho, assim como na música de Miúcha e Tom Jobim.  O filósofo aborda três tipos de Philia: “Há, portanto, três espécies de amizade, em número igual às qualidades que merecem ser amadas […] e quando duas pessoas se amam elas desejam bem uma à outra referindo-se à qualidade que fundamenta a sua amizade […]. Logo, as pessoas que amam as outras por interesse amam por causa do que é bom para si mesmas, e aquelas que amam por causa do prazer amam por causa do que lhes é agradável. Sendo assim, as amizades desse tipo são apenas acidentais, pois não é por ser quem ela é que a pessoa é amada, mas por proporcionar à outra algum proveito ou prazer […]. Tais amizades se desfazem facilmente se as pessoas não permanecem como eram inicialmente, pois se uma delas já não é agradável ou útil a outra cessa de amá-la […]. Portanto, desaparecendo o motivo da amizade esta se desfaz, uma vez que ela existe somente como meio para chegar a um fim. (Aristóteles, Ética e Nicômaco).

É evidente que estou resumindo a definição de Aristóteles conhecido também por dizer que o homem é um animal político e necessariamente deve viver em sociedade. Portanto extravasem a Philia!

Referências

Aristóteles, Ética e Nicômaco

Filho, Clóvis de Barros. Comentários diversos

Naciff, Ana Clara. Philia: Amor em Aristóteles

Fran Bueno

 

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