No carnaval pobre vira nobre, homem vira mulher, hetero vira gay, é o espetáculo da inversão, na rua, onde todo mundo é igual e tem a liberdade de ser o que quiser. Era assim. Hoje, o politicamente correto resolveu impor suas regras: lugar de fala, apropriação cultural etc. Alessandra Negrini, sempre antenada em temas progressistas, ativista pelos direitos dos povos nativos, foi censurada. Afinal, uma branca vestida de índia não pode.
Quem é ela para se apropriar da cultura indígena? Assim pensam os defensores do patrulhamento identitário, para quem cultura não é uma produção humana dialética, fruto de uma dinâmica de interação entre os povos, mas monopólio de um grupo.
Não se contentaram em censurar as marchinhas, “o teu cabelo não nega mulata”, “olha a cabeleira do Zezé”, versos de alegria cantados por todos na festa mais popular do país, se tornaram expressões de racismo e homofobia. Logo, devem ser proibidas. Pular carnaval hoje exige de todos um cuidado nas fantasias e no canto, para que não possamos correr o risco de sermos acusados de racista, machista ou homofóbico no tribunal identitário. Um pouco de fascismo misturado com chatice, assim querem destruir o carnaval.
Adelson Vidal