Por Adelson Vidal Alves
O bolsonarismo funciona na lógica do teórico nazista Carl Schmitt. Ao contrário do pensamento democrático, onde o diferente vira adversário político legítimo, no bolsonarismo schmittiano vale a dualidade amigo x inimigo. Por isso, a necessidade de inventar inimigos reais e imaginários, ora globalistas, ora esquerdistas ou comunistas. O objetivo é criar um inimigo comum que dê coesão a um exército fiel e inabalável na luta do bem contra o mal. Nem mesmo a pandemia foi capaz de mudar esse rosto do bolsonarismo.
Em meio a ascensão de contaminados pelo novo Coronavirus e o aumento de mortes, o presidente se recusa a governar, faz a opção em se manter no personagem de 2018, agitando apoiadores e mobilizando aglomerações contra adversários fantasiosos. Se nas eleições o comunismo e o lulismo eram o mal a ser combatido, agora os alvos são o governador João Dória, o STF, Rodrigo Maia e a imprensa. Todos unidos contra o bem do Brasil, na fábula delirante do bolsonarismo. A peça insana deste discurso vira um objetivo a ser alcançado: acabar com a democracia.
Os militantes que estavam em Brasília, aglomerados em tempos de COVID-19, estão cientes que devem perseguir o fim das liberdades, é esse o mandamento dado pelo presidente em seus irresponsáveis pronunciamentos. Bolsonaro quer dar um golpe na democracia, somando ao gravíssimo problema sanitário um problema político. Que outro presidente no mundo fez isso? Combinamos uma crise pandêmica com a eleição de um inescrupuloso irresponsável para governar o país. Entre as democracias, somos disparados o país em pior situação.
Só que toda ação gera reação. Bolsonaro não deve esperar passividade dos democratas brasileiros caso se aventure em um golpe. Em uma análise preliminar, o Exército não deve emprestar seu apoio a um ato aloprado de golpismo. Mas, sim, há oficiais das forças armadas analisando a possibilidade de uma ação radical contra as instituições. Mesmo a ala militar, tratada como “bombeiros”, se mostra insatisfeita com as ações do STF. O presidente confia em um crescimento de apoio na sociedade civil e de uma improvável adesão dos militares ao seu sonho de destruir as instituições democráticas.
O desejo bolsonarista é por tensão, conflito, agitação, assim Bolsonaro conserva inacreditável 1/3 de apoio da população, e com este número monta sua força para combater às conquistas civilizatórias do pais. O que esperam é jogar o país em uma guerra civil, os patriotas contra os traidores comunistas. Seria uma tragédia em tempos normais, em meio a uma pandemia, trata-se de um genocídio anunciado. O fato do presidente aprontar um golpe e saber da inevitável resistência dos democratas faz dele um assassino consciente. Ou paramos ele rápido, ou o futuro será o pior dos mundos para o Brasil.