8 de Maio de 2020
Eu que mesmo estando aposentado vivia igual um louco trabalhando diariamente, me queimando no sol me encharcando na chuva em busca de uns trocados a mais para não morrer de fome, fiquei apavorado quando surgiu a necessidade de me isolar, pois sendo um velho com idade superior aos 70 anos pertenço a categoria de alto risco e se me expor posso estar acelerando o dia da minha despedida deste mundo, o que certamente não está nos meus projetos futuros.
Diante desta realidade aceitei ficar em casa ao lado da minha mulher tentando nos proteger e evitando assim manter contato com o mundo exterior, que infelizmente está infestado pelo Coronavirus.
Muitos da minha idade e até em situação financeira melhor não conseguiram ficar em casa sem refletir a vida e cair em depressão. Caso mais recente foi do ator Flávio Migliaccio que quando pensou no passado e no momento atual que vivemos entrou em depressão e acabou cometendo suicídio deixando somente uma carta que pode ser vista como um recado para as nossas maiores autoridades: “Me desculpem, mas não deu mais. A velhice neste país é (…) como tudo aqui. A humanidade não deu certo. A impressão que foram 85 anos jogados fora num país como este e com esse tipo de gente que acabei encontrando. Cuidem das crianças de hoje”, disse na carta.
Este recado demonstra com clareza como nós que ultrapassamos a idade considerada pelos homens que comandam este país como produtiva somos jogados numa lata de lixo e descartados sem a menor piedade.
A forma que os aposentados são tratados neste país é desumana. Para constatar esta realidade façam uma viagem ao exterior e veja como os idosos são tratados e conclua; No Brasil a morte de um idoso significa festa para o governo pois será menos um a receber os benefícios sociais, esquecendo eles que todos que hoje recebem menos da metade do que merecem contribuíram a vida inteira para enriquecer o país.
Deixo de lado este universo nublado e vamos para o lado bom do confinamento. Tive tempo maior para acompanhar os últimos acontecimentos e conclui; fui um tolo em minha juventude.
Naquele tempo eu e todos os cidadão pensávamos que somente marginais tinham receio da justiça, que o Brasil era um país democrático apoiado pela maioria.
Que manifestações de rua eram para defender os direitos de um povo e não de um homem, que a nossa Constituição que determinou uma democracia plena regida por três poderes – executivo, legislativo e judiciário – realmente existia, que a escola servia para alfabetizar e ensinar cidadania, que os jovens respeitassem os pais, pois afinal foram os velhos que deram a vida para cria-los, enfim tudo são coisas do passado, pois agora mentira virou Fake-News, o poder judiciário não é mais respeitado, o legislativo não tem mais o direito de criar leis e fiscalizar o executivo, a Policia Federal que era um órgão do Estado pode se transformar em órgão do governo.
Enfim o confinamento mostrou –me o quanto eu estava errado em toda a minha vida. Eu que erradamente admirava escritores como; Machado de Assis, Paulo Freire, Guimarães Rosa, Lima Barreto, Vinicius de Morais, João Cabral de Melo Neto, Carolina de Jesus, Martins Pena conclui que eles não sabiam nada se comparados a inteligência, sabedoria, cultura e educação de Olavo de Carvalho.
Manoel Alves