Mais escolas estão se organizando!
O Prefeito Diogo Balieiro não pode continuar indiferente a essa situação dramática!
Não queremos mais leitos! Defendemos VIDAS.
Resende, 09 de abril de 2021.
De: Corpo docente e funcionários da Escola Municipal Noel de Carvalho Para: Sra Rosa Diniz Flash de Almeida
Secretaria Municipal de Educação de Resende
Assunto: Comunicação
Vimos por meio desta comunicar que nos dias 8 e 9 de Abril de 2021 ocorreram assembleias compostas por docentes e profissionais de educação sobre assuntos pertinentes ao risco epidemiológico na unidade de ensino Escola Municipal Noel de Carvalho.
Na oportunidade, os docentes colocaram suas angústias referentes à proteção de sua vida, aos riscos graves e iminentes do deslocamento no transporte público, além do contato com crianças e adolescentes que respeitam os protocolos ao entrar na escola, mas que demonstram ampla imaturidade (pertinente da idade) ao pouco se cuidarem quando estão fazendo os seus trajetos de volta às suas casas.
Temos consciência da importância da escola para a formação dos estudantes, porém os dados recentes sobre a pandemia ao redor do globo são alarmantes. Em 08 de abril de 2021, segundo a Universidade Johns Hopkins (JHU), são quase 3 milhões de óbitos pela COVID-19, com 131 milhões de infectados por todo o mundo; no Rio de Janeiro já são mais de 660 mil casos confirmados, com quase 40.000 mortes pela doença.
De acordo com a 24a edição do Mapa de risco da Covid-19 no estado do Rio de Janeiro, a unidade da federação apresentou um aumento no número de óbitos (29%) e também de casos de internações por síndrome respiratória aguda grave (26%). As taxas de ocupação de leitos do estado (até o dia 02.04), estavam em 90% para UTI, e em 80,7% para enfermaria. A região estadual do Médio Vale Paraíba (em que está inscrito este município) se encontra em bandeira roxa (risco muito alto); e em Resende, segundo o site da prefeitura, são 302 mortos, com 260 casos ativos e outros 260 aguardando resultado. Ressaltamos que esses dados não são apenas números, mas, sobretudo, famílias em situação de exposição e sofrimento.
Não podemos ignorar o fato de que tanto o vírus, quanto os meios de tratamento/recuperação das pessoas contaminadas operam de forma sistêmica e isso basta para que exista cautela e uma inteligência preventiva na articulação de ações de combate à pandemia. Trocando em miúdos, o agir sistêmico do vírus significa que ele não respeita as fronteiras dos municípios e se deslocará diariamente pelo território toda vez que as pessoas realizarem seus deslocamentos para estudo e trabalho. Na região do Médio Vale Paraíba as migrações pendulares são constantes, sendo comum as pessoas saírem de um município para o outro todos os dias, fatalmente aumentando a contaminação.
O agir sistêmico dos meios de tratamento/recuperação se explica de maneira clara, pois quando não há vaga para internação no hospital situado na cidade onde o doente reside o próprio sistema busca sua entrada em outra unidade médica, em cidade vizinha ou próxima. Se considerarmos a gravidade da situação expressa pelas informações oficiais, percebemos que o colapso do sistema de saúde do estado do Rio de Janeiro é completamente passível de acontecer. Não é pessimismo, é fato!
Entendemos que a questão econômica é consideravelmente urgente e que medidas para a proteção dos trabalhadores que vivem esse deslocamento pelas ruas da cidade e entre os municípios do sul fluminense precisam ser estudadas com cautela e adotadas com responsabilidade, conforme foi feito no ano anterior (2020) de maneira notável. Todavia, acreditamos que o risco de negligenciar o momento de total insegurança em relação à pandemia no território fluminense é temerário e faz emergir urgência no realinhamento de algumas estratégias, em especial, na condução da educação municipal.
No momento mais crítico da pandemia, mudamos o faseamento do número de alunos presenciais na Escola Municipal Noel de Carvalho, de 30% para 60%, totalizando
363 alunos autorizados pelos responsáveis a frequentarem a escola, fato que traz um aumento do movimento de pessoas pelas ruas da cidade (e entre municípios), assim como usando o transporte público.
Salientamos que nossa escola já adquiriu uma rotina de trabalho remoto em modelo Home Office, com estratégias que constantemente foram e são (re)discutidas e aperfeiçoadas periodicamente, buscando sempre a excelência na oferta do ensino aos nossos estudantes. Estivemos um ano sem atividades presenciais e não vemos problemas em manter essa rotina, por mais um período, uma vez que estamos preservando a vida de toda comunidade escolar.
É importante que este período não seja entendido de forma cronológica, mas estratégica, tendo em vista a segurança sanitária no estado do Rio de Janeiro, a diminuição dos riscos de contágio e dos avanços da campanha de vacinação, especialmente contemplando os profissionais da educação e parte considerável da sociedade fluminense.
Ressaltamos ainda que o argumento utilizado pelas autoridades sobre o número de leitos, não constitui um argumento plausível, porque ninguém aqui quer ficar doente para utilizá-los. Mais uma vez reforçamos: queremos preservar vidas. Os sistemas de saúde mais premiados do mundo advertem que a prevenção é o método mais eficaz para se combater qualquer mal que aflija um povo; trabalhar para aumentar o número de leitos é remediar. Isso não é se preparar para a pandemia..
Nos causa espanto por exemplo, as sessões da câmara de vereadores não receberem público e a escola estar aberta. Foram estes vereadores que votaram para a abertura prematura da escola; por acaso a vida dos nobres vale mais do que a dos Educadores? Esperávamos de uma gestão feita por professores de carreira, profissionais notáveis de outras áreas e uma Vereadora representante da Educação na Câmara Municipal, uma maior consideração e respeito. Um protocolo de segurança não garantirá o direito à saúde e à vida dos profissionais da educação, tampouco dos nossos estudantes e suas famílias.
Sendo assim, o grupo de profissionais da escola Municipal Noel de Carvalho declara estar decidido a voltar com as atividades remotas em Home Office a partir de 14 de abril, preservando, num primeiro momento, as estratégias de trabalho praticadas no ano passado (2020), mas estabelecendo compromisso de rediscuti-las em assembléia escolar a fim de tornar mais profícuo o trabalho pedagógico no contexto atual.
Convidamos o corpo gestor da Secretaria Municipal de Educação e demais autoridades vinculadas ao setor para um diálogo com os profissionais desta unidade de ensino, desde que este seja um ponto de partida para que os demais colegas lotados em outras escolas também tenham direito à voz e relevância assegurada de suas opiniões.
Firmadas essas novas estratégias de trabalho estarão, a partir da data mencionada, até que haja uma solução democraticamente elaborada com as demais unidades de ensino e a Secretaria Municipal de Educação, a fim de que seja preservada a saúde de toda comunidade escolar e da população resendense.
Assinam: Corpo docente e funcionários da Escola Municipal Noel de Carvalho