Bolsonarismo e o combate à razão

Por Adelson Vidal Alves

No Mein Kampf, escreveu Hitler: ” (…) o Estado deve dirigir a educação do povo, não no sentido puramente intelectual, mas visando sobretudo a formação de corpos sadios. Em segundo plano é que vem a educação intelectual”.

O programa Nacional-socialista dava ênfase na saúde do corpo, e praticamente ignorava a instrução intelectual. Para isso, se defendeu que deficientes físicos e doentes fossem proibidos de procriar ou simplesmente fossem isolados. O Bolsonarismo não tem lá um estatuto em defesa da saúde física, mas igualmente despreza a vida intelectual.

E não somente porque Jair Bolsonaro seja estúpido, grosso e intelectualmente medíocre. No bolsonarismo, o culto à ignorância é um dogma, e todo bom bolsonarista deve velar pela irracionalidade, evitar ambientes de difusão do saber, como universidades. A razão deve ser combatida e os intelectuais desprezados como uma elite a ser enfrentada. O conhecimento bolsonarista vem das redes sociais, de blogs, vídeos, em sua maioria sem critérios de verificação de veracidade. A pós- verdade é parte da cultura bolsonarista.

A ideologia que alimenta o bolsonarismo tem sede na Virgínia, na voz de um astrólogo auto-proclamado filósofo que acha que a terra é plana e que a Pepsi adoça seus refrigerantes com fetos abortados. As loucuras do “bruxo” sustentam a militância bolsonarista, que está convencida que a pandemia é uma articulação chinesa e que a cloroquina pode curar os enfermos com COVID-19. Na cabeça bolsonarista, o conhecimento não carece de provas, estudos, trabalhos científicos, o que deve predominar é a crença em uma determinada coisa, imposta como verdade sem qualquer cuidado metódico. O caso da cloroquina é emblemático, e já fez dois ministros da saúde pedirem demissão, isso porque o presidente quer porque quer que o medicamento funcione contra o novo Coronavirus, mesmo com estudos científicos dizendo exatamente o contrário. No mundo bolsonarista a razão é o que menos importa.

O anti-racionalismo do bolsonarismo fica evidente na composição do seu governo. Há um trio da irracionalidade em ministérios importantes: um diplomata que enxerga no mundo uma conspiração globalista em curso, uma pastora que vê Jesus Cristo na goiabeira e um ministro da educação que estupra a língua portuguesa. Eis a trindade da burrice que coroa o Bolsonarismo.

Na sociedade, o bolsonarismo se sustenta em setores geralmente pouco afeitos ao debate racional, isto é, as religiões fundamentalistas. Silas Malafaia é o símbolo deste setor, combinando mentira, canalhice e uma fé absolutamente manipulada, desvinculada da inteligência.

Em tempos de pandemia, o irracionalismo bolsonarista faz vítimas. O exército de imbecis que apoia o presidente se mantém firme, colaborando com a propagação da ignorância e da irracionalidade. Deve ser combatido pelos que defendem a razão como instrumento civilizatório.

NOTA DESTA PÁGINA:  O vírus mata, a ignorância também!