O liberalismo depois da pandemia

Por Adelson Vidal Alves

No Brasil, os últimos anos tem sido de medidas e reformas liberais. O saneamento fiscal do Estado visava corrigir a gastança dos governos anteriores. O Teto de Gastos, as reforma previdenciária e trabalhista formavam o núcleo da modernização econômica e da redução do tamanho estatal, com vistas a uma economia mais eficiente e  competitiva. Mas uma pandemia entrou no caminho, e o arsenal teórico liberal não tem muitas ferramentas para oferecer em tempos como esse. Diante de uma crise deste tamanho, concordam os liberais autênticos, é preciso cessar a austeridade e investir recursos públicos.

Mas a pandemia vai passar, e a pergunta que muito de nós fazemos é como a economia e a sociedade serão recuperadas. Aí, então, o liberalismo tem muito a contribuir.

No campo econômico, temos a certeza de uma recessão, resta saber o tamanho dela. O Estado sairá mais endividado, por aqui, ainda mais endividado. Não há saída se não retomar a agenda reformista, completar a reforma trabalhista -, oferecendo mais dinâmica ao nosso mundo do trabalho -, alterar o sistema tributário brasileiro (de regressivo para progressivo), privatizar empresas como a Eletrobras e os Correios, quebrar privilégios de estamentos do funcionalismo público, implementar leis que cortem gastos públicos. Uma agenda rigorosa e amarga para que possamos reequilibrar as contas públicas.

Há outras possibilidades bem mais irresponsáveis e anacrônicas, como a de aumentar as funções do Estado, fechar a economia, aumentar gastos públicos e cessar a importante agenda de reformas. A abertura econômica da década de 1990 seria interrompida para voltarmos ao terceiro mundismo de tempos anteriores.

Corremos o risco, ainda, do cancelamento da democracia liberal. Liberdades fundamentais seriam anuladas na Constituição e o ideal político da globalização humanitária seria substituída por comunitarismos primitivos e nacionalismos toscos. Não só no Brasil, mas no mundo, há grandes chances de que a as barreiras culturais e econômicas sejam recompostas em nome de uma nova geopolítica, fundada em novos muros nacionais, étnicos e raciais.

No liberalismo, a cultura, o conhecimento e a economia são patrimônios da humanidade, não de grupos. Liberais querem um mundo de livre circulação, humanista. As guerras e conflitos surgem por interesses de grupos, uma sociedade global será muito mais pacífica e harmoniosa.

Mas é possível que o fim da democracia liberal abra caminhos para totalitarismos, em nome da segurança nacional, a história já passou por isso.

Diante de um quadro pandêmico é justo e racional que o Estado aja, como nunca agiu. Mas tal intervencionismo trata-se de uma medida excepcional, em tempos de crise humanitária, não é e não pode ser uma prática comum. Uma sociedade madura só pode ser de cidadãos livres tomando livremente suas decisões, de um poder público limitado em suas funções e poder, e de uma economia próspera que nasce da economia de mercado, da livre concorrência e do espírito empreendedor. Tal sociedade depende das armas do liberalismo, e depois que tudo isso passar, esperamos serem elas as utilizadas pelos governos.